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sexta-feira, 20 de julho de 2012

A história do Porsche 914: uma parceria que não deu muito certo


Veja se você conhece esta história. Dois fabricantes de automóveis vindos do mesmo país unem-se para construir um novo carro. Mas não um carro qualquer – ele seria um verdadeiro esportivo. Teria tração traseira, peso baixo, um motor boxer e, acima de tudo, seria barato e acessível para as massas. A construção deste carro satisfaria os dois lados da parceria, tanto em custo, quanto em participação de mercado.

Eu poderia estar falando do Toyota GT86 e do Subaru BRZ, e se você pensou nisso, pensou errado. Estes carros seriam planejados muito mais tarde (e do jeito certo, por isso são fantásticos), mas eles me fizeram pensar em outra parceria de uma outra época: o Porsche 914.


O problema é que, enquanto os gêmeos Toyobaru tenham se mostrado um sucesso de público e crítica até agora, o 914 não se deu tão bem. Hoje ele é apenas um filho indesejado de um romance tórrido e duradouro entre a Volkswagen e a Porsche.


No papel, ao menos, não deveria ter sido assim. Na internet você encontra as especificações técnicas do 914. Ele era pequeno, pesava apenas 900 quilos e tinha o motor logo atrás da cabine – como um carro de corrida de verdade. Ele também tinha suspensão independente, teto removível (que se encaixava no porta malas traseiro), transmissão manual de cinco marchas e injeção de combustível – um conjunto impressionante para a época. E ele ainda tinha dois porta-malas! Quantos o seu carro prata tem?

Além disso, custava 3.500 dólares quando foi lançado, em 1970 (o equivalente a 45.000 reais em dinheiro de hoje). E tinha o logotipo da Porsche! Se um carro desse fosse construído hoje, as pessoas sairiam no tapa para poder comprar um. Mas… como se sabe, muitas coisas que parecem maravilhosas no papel, não funcionam direito no mundo real. Veja como ele foi concebido, segundo as palavras do Classic Motorsports: No vim dos anos 60 a Porsche precisava de um substituto para o 912 – que com seu quatro-cilindros era a versão de entrada do 911. Na mesma época a Volkswagen precisava de um sucessor para o belo Karmann-Ghia, que não era muito mais que um Fusca com uma carroceria bonita. Talvez depois de algumas weizenbier acompanhando os sauerkrauten, Ferry Porsche e Heinz Nordhoff da VW fecharam um acordo para construir um carro juntos.

O carro seria projetado pela Porsche, teria motor Volkswagen, e o plano original é que cada marca teria sua própria versão. Mas depois que Nordhoff morreu, um novo executivo decidiu vender o carro na Europa como “VW-Porsche 914″. Na América do Norte ele seria vendido apenas como Porsche.

Como seria de esperar de um carro pequeno, leve e com motor central, ele tinha um comportamento dinâmico aguçado. A aceleração nem tanto. O problema era o motor, um boxer refrigerado a ar de 1,7 litro e 80 cv, do sedã Type 4 da Volkswagen (uma evolução do nosso TL). Ele nunca foi um motor esportivo e isso ficou aparente. Mesmo com a carroceria leve, a aceleração de zero a cem chegava depois de demorados 13 segundos, tempo suficiente para pensar sobre a compra que você acabou de fazer.

Mas talvez o maior problema do 914 tenha sido a percepção de valor. Com todos os seus componentes Volkswagen, muitos entusiastas recusavam-se a aceitá-lo como um “verdadeiro Porsche”. Ele também sofria com o câmbio pouco preciso (semelhante ao do Fusca), estilo discutível e a qualidade de acabamento que refletia sua origem de baixo custo baseado em peças de prateleira. O carro não foi bem visto pela imprensa automotiva da época.

A Porsche tentou reverter a situação ao vender uma versão de seis cilindros chamada 914/6, mas o preço final acabou próximo demais do 911, um carro bem superior que tornou ainda mais visível os pontos fracos de seu irmão menor.

No fim, o 914 foi aposentado em 1975, superado por esportivos mais competentes como o Datsun 240Z. O “VolksPorsche” não se saiu tão mal no automobilismo, conquistando uma vitória em sua classe nas 24 Horas de Le Mans de 1970. Ele conseguiu até vender 120.000 unidades. Muitas delas podem ser encontradas nas ruas e sites de classificados de todo o mundo.

É interessante ver como a Porsche se distanciou de sua postura corporativa da época do 914. O esportivo é apenas uma velha lembrança diante dos Cayennes e Panameras que vemos hoje. A fabricante ainda teria muito mais sucesso com um esportivo de motor central com o lançamento do Boxster, na segunda metade dos anos 90.

Desde então muitos entusiastas esperam um esportivo mais acessível, abaixo do Boxster, para suceder o 914 – talvez até construído com a ajuda da Volkswagen. Agora que as duas estão oficialmente casadas, e não mais vivendo no pecado, é uma hipótese possível, não?
Fonte: Jalopnik

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